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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pré Sal: A Nova Califórnia


Pré Sal: A Nova Califórnia

“A Nova Califórnia” é um conto de Lima Barreto, em que uma pequena cidade chamada Tubiacanga passa por uma verdadeira convulsão social. No conto, um alquimista chamado Flamel chega, e demonstra para três pessoas importantes da cidade um experimento onde transforma osso em ouro. Os três começam a roubar túmulos no cemitério da cidade. Com o tempo as pessoas descobrem que o alquimista criou um método de transformar ossos em ouro. Sem mesmo ter certeza da veracidade da descoberta a população de Tubiacanga se precipita no cemitério da cidade para roubar os ossos dos mortos, e como não bastasse os ossos dos mortos, ocorrem alguns assassinatos para conseguir mais ossos. O único que não se envolve na loucura da febre do ouro é um bêbado, que parece ser a pessoa mais sóbria da história. O conto termina com o cemitério da cidade todo revirado, algumas mortes, o alquimista desaparecido e sem nenhum osso virar ouro.
A rede Globo fez uma novela chamada “Fera Ferida”, onde usa alguns elementos do conto de Lima Barreto. A novela fez muito sucesso e usou parte do roteiro de “A Nova Califórnia” onde um alquimista descobre como transformar osso em ouro.
Mas o que isto tem a ver com o nosso pré-sal?
Não, não é a característica de ser uma descoberta inviável, o petróleo existe e pode ser extraído. O que me fez lembrar deste conto é a ganância dos governadores e deputados disputando os royalties de algo que ainda não se sabe quanto vai render. Desesperados cada um corre atrás de seu osso.
O caso do pré-sal brasileiro deve ser encarado de uma forma real, sem o sonho de que ele resolverá todos os nossos problemas. Existem muitos “SE” relacionados ao pré-sal, e também analisando pelo lado econômico, existe uma janela de oportunidade para ele.
O petróleo do pré-sal é um petróleo caro! Sua extração exige investimentos altíssimos! O retorno desse investimento será a longo prazo (décadas talvez)!
É preciso perguntar:
- Já existe tecnologia para extrair a parte do pré-sal que está a sete mil metros?
- Já existe tecnologia para fechar os poços em caso de acidentes nesta profundidade?
- Qual o custo dos acidentes em termos ambientais? Para a pesca? Para as praias (turismo)? Para a vida marinha?
- O custo dos possíveis acidentes e suas medidas de reparo foram contabilizados quando se afirma que irão precisar de US$ 600 bilhões de investimentos?
- As empresas de petróleo irão ressarcir, em caso de acidentes, os pescadores, as empresas de turismo, além de retirar todo óleo do mar e fechar os vazamentos?
Mesmo que essas perguntas sejam respondidas de uma maneira positiva, o que duvidamos, sobram problemas e perguntas ainda mais intrigantes:
A janela de oportunidade está entre um petróleo mais caro e o momento em que as grandes economias do mundo optarem por outro modelo de matriz energética, uma matriz limpa e sustentável. O que isso quer dizer?
Em uma nova matriz energética (de carbono zero) que privilegie o hidrogênio, o biodiesel e o etanol, seja feito algas, celulose ou cana-de-açúcar, para a frota de veículos, o petróleo terá a partir deste momento uma demanda menor, o que baixará os seus preços. Este fato dará uma sobrevida as reservas que tem um baixo custo de extração (Oriente Médio), tornando inviável o retorno do investimento no pré-sal. Alguns Afirmam: Mas isto será muito difícil de acontecer! As empresas de petróleo não deixarão! Muitas dessas empresas já estão investindo em energias alternativas, e se em algum momento, fazer biodiesel de algas e abastecer carros com hidrogênio feito com eletricidade de origem solar ficar mais barato, elas mesmas poderão optar por este caminho. O hidrogênio pode ser feito em qualquer lugar que houver eletricidade, e ele pode usar o mesmo esquema de distribuição da gasolina, fazendo com que as grandes empresas não percam o patrimônio em postos de distribuição.
Para isto acontecer, basta o governo americano decidir subsidiar as energias alternativas, o que politicamente é muito interessante para eles, pois poderão ter uma maior independência em relação as fontes energéticas externas. Esta é uma simples decisão que pode derrubar o castelo de ilusões criado pelos tecnocratas do nosso governo.
Somando-se a esse risco restam as perguntas que ninguém faz mas deviam fazer:
- Quem irá pagar pelos 600 bilhões?
- Continuaremos com uma gasolina cara para subsidiar a construção de novas plataformas de extração?
- Se nós pagamos gasolina cara para subsidiar construção de plataformas porquê nós não ficamos com o lucro?
- E as alterações climáticas provocadas pelo CO2? Quem paga?
- As indústrias do petróleo não deveriam pagar pelas enchentes, secas, ilhas e países desaparecendo?
- Os custos do investimento não deveriam prever custos de seguro em caso de tragédias provocadas pelo aquecimento global, como tornados, furacões?
- As petrolíferas não deveriam pagar pelas casas e pelos entes queridos que as pessoas perderem?
- Porquê nós, o povo, temos que pagar com nossos impostos pelas tragédias das alterações climáticas, enquanto as empresas petrolíferas que são as responsáveis pelo aumento do CO2 e pelas alterações climáticas ficam apenas com o lucro?
Finalizando:
E SE,

- E se 600 bilhões fossem investidos em energias limpas e renováveis?
- E se uma parte deste valor fosse investido em educação?
- E se usarmos a plataforma continental para produzir pescado, algas para biodiesel e etanol?
- E se deixarmos o pré-sal quieto?
Eu não quero pagar 600 bilhões para sujar o ar, sujar os mares, destruir a vida marinha e dar lucro a empresários. Quanto aos royalties, se os políticos que até hoje não fizeram nada pela Saúde, pela Educação e pelo saneamento básico, porquê passariam a fazer com mais esta verba? Esse osso talvez vire ouro apenas para eles.

Walder Antonio Teixeira

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