Pré
Sal: A Nova Califórnia
“A Nova Califórnia” é um conto de Lima Barreto, em que uma
pequena cidade chamada Tubiacanga passa por uma verdadeira convulsão
social. No conto, um alquimista chamado Flamel chega, e demonstra
para três pessoas importantes da cidade um experimento onde
transforma osso em ouro. Os três começam a roubar túmulos no
cemitério da cidade. Com o tempo as pessoas descobrem que o
alquimista criou um método de transformar ossos em ouro. Sem mesmo
ter certeza da veracidade da descoberta a população de Tubiacanga
se precipita no cemitério da cidade para roubar os ossos dos mortos,
e como não bastasse os ossos dos mortos, ocorrem alguns assassinatos
para conseguir mais ossos. O único que não se envolve na loucura da
febre do ouro é um bêbado, que parece ser a pessoa mais sóbria da
história. O conto termina com o cemitério da cidade todo revirado,
algumas mortes, o alquimista desaparecido e sem nenhum osso virar
ouro.
A rede Globo fez uma novela chamada “Fera Ferida”, onde usa
alguns elementos do conto de Lima Barreto. A novela fez muito sucesso
e usou parte do roteiro de “A Nova Califórnia” onde um
alquimista descobre como transformar osso em ouro.
Mas o que isto tem a ver com o nosso pré-sal?
Não, não é a característica de ser uma descoberta inviável, o
petróleo existe e pode ser extraído. O que me fez lembrar deste
conto é a ganância dos governadores e deputados disputando os
royalties de algo que ainda não se sabe quanto vai render.
Desesperados cada um corre atrás de seu osso.
O caso do pré-sal brasileiro deve ser encarado de uma forma real,
sem o sonho de que ele resolverá todos os nossos problemas. Existem
muitos “SE” relacionados ao pré-sal, e também analisando pelo
lado econômico, existe uma janela de oportunidade para ele.
O petróleo do pré-sal é um petróleo caro! Sua extração exige
investimentos altíssimos! O retorno desse investimento será a longo
prazo (décadas talvez)!
É preciso perguntar:
- Já existe tecnologia para extrair a parte do pré-sal que está a
sete mil metros?
- Já existe tecnologia para fechar os poços em caso de acidentes
nesta profundidade?
- Qual o custo dos acidentes em termos ambientais? Para a pesca? Para
as praias (turismo)? Para a vida marinha?
- O custo dos possíveis acidentes e suas medidas de reparo foram
contabilizados quando se afirma que irão precisar de US$ 600 bilhões
de investimentos?
- As empresas de petróleo irão ressarcir, em caso de acidentes, os
pescadores, as empresas de turismo, além de retirar todo óleo do
mar e fechar os vazamentos?
Mesmo que essas perguntas sejam respondidas de uma maneira positiva,
o que duvidamos, sobram problemas e perguntas ainda mais intrigantes:
A janela de oportunidade está entre um petróleo mais caro e o
momento em que as grandes economias do mundo optarem por outro modelo
de matriz energética, uma matriz limpa e sustentável. O que isso
quer dizer?
Em uma nova matriz energética (de carbono zero) que privilegie o
hidrogênio, o biodiesel e o etanol, seja feito algas, celulose ou
cana-de-açúcar, para a frota de veículos, o petróleo terá a
partir deste momento uma demanda menor, o que baixará os seus
preços. Este fato dará uma sobrevida as reservas que tem um baixo
custo de extração (Oriente Médio), tornando inviável o retorno do
investimento no pré-sal. Alguns Afirmam: Mas isto será muito
difícil de acontecer! As empresas de petróleo não deixarão!
Muitas dessas empresas já estão investindo em energias
alternativas, e se em algum momento, fazer biodiesel de algas e
abastecer carros com hidrogênio feito com eletricidade de origem
solar ficar mais barato, elas mesmas poderão optar por este caminho.
O hidrogênio pode ser feito em qualquer lugar que houver
eletricidade, e ele pode usar o mesmo esquema de distribuição da
gasolina, fazendo com que as grandes empresas não percam o
patrimônio em postos de distribuição.
Para isto acontecer, basta o governo americano decidir subsidiar as
energias alternativas, o que politicamente é muito interessante para
eles, pois poderão ter uma maior independência em relação as
fontes energéticas externas. Esta é uma simples decisão que pode
derrubar o castelo de ilusões criado pelos tecnocratas do nosso
governo.
Somando-se a esse risco restam as perguntas que ninguém faz mas
deviam fazer:
- Quem irá pagar pelos 600 bilhões?
- Continuaremos com uma gasolina cara para subsidiar a construção
de novas plataformas de extração?
- Se nós pagamos gasolina cara para subsidiar construção de
plataformas porquê nós não ficamos com o lucro?
- E as alterações climáticas provocadas pelo CO2? Quem paga?
- As indústrias do petróleo não deveriam pagar pelas enchentes,
secas, ilhas e países desaparecendo?
- Os custos do investimento não deveriam prever custos de seguro em
caso de tragédias provocadas pelo aquecimento global, como tornados,
furacões?
- As petrolíferas não deveriam pagar pelas casas e pelos entes
queridos que as pessoas perderem?
- Porquê nós, o povo, temos que pagar com nossos impostos pelas
tragédias das alterações climáticas, enquanto as empresas
petrolíferas que são as responsáveis pelo aumento do CO2 e pelas
alterações climáticas ficam apenas com o lucro?
Finalizando:
E SE,
- E se 600 bilhões fossem investidos em energias limpas e
renováveis?
- E se uma parte deste valor fosse investido em educação?
- E se usarmos a plataforma continental para produzir pescado, algas
para biodiesel e etanol?
- E se deixarmos o pré-sal quieto?
Eu não quero pagar 600 bilhões para sujar o ar, sujar os mares,
destruir a vida marinha e dar lucro a empresários. Quanto aos
royalties, se os políticos que até hoje não fizeram nada pela
Saúde, pela Educação e pelo saneamento básico, porquê passariam
a fazer com mais esta verba? Esse osso talvez vire ouro apenas para
eles.
Walder Antonio Teixeira
Walder Antonio Teixeira
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